[Entrevista] C.A. Saltoris apresenta: A História Esquecida da Hospedaria na Estrada

Hoje
vamos a uma entrevista especial!

Não é segredo para ninguém o quanto admiro a C.A. Saltoris, autora parceira do My Queen Side. Ela é uma pessoa incrível, sempre disposta a conversar com os leitores e a apoiar ações que valorizam a nossa literatura. É por isso que a presença dela não poderia faltar durante a Maratona Setembro Nacional.

Nessa entrevista, C.A. Saltoris compartilha um pouco sobre sua obra A História Esquecida da Hospedaria na Estrada, que ingressou para as minhas leituras favoritas e vem encantando diversos leitores [confira minha resenha].

'Bora conferir?

1. Você é uma autora que impressiona pela criatividade dos seus textos! Em A História Esquecida da Hospedaria na Estrada, temos como narrador Chronos, o deus do Tempo. De onde surgiu a ideia de trazer uma divindade como narradora e, ainda, como personagem coadjuvante nesse livro?

Primeiramente, obrigada pela oportunidade de falar sobre o meu trabalho e pelo elogio! (risos) A história é longa, vamos por partes:

Como você sabe, o livro é a minha interpretação – bem pessoal – da música do Eagles, Hotel California. Eu queria, na medida do possível, seguir o enredo da música cronologicamente, e quem “narra“ a música é o rapaz, que vai parar no hotel, no caso do livro, Mathew. Assim eu comecei, mas fiquei incomodada com o fato de ter que contar a história em primeira pessoa. Não achei que combinava. Então eu soube, que precisava de mais um narrador. Na época, eu estava lendo Conto de Inverno, de Shakespeare. Em algum ponto da peça, o tempo interrompe o enredo para dizer que tinha passado. Eu achei aquilo genial e naquele momento me veio uma luz e eu decidi que meu narrador seria o tempo. Com o desenvolver da narrativa, eu achei que somente o tempo era muito abstrato, foi assim que escolhi Chronos como narrador definitivo.

Já o Chris (corpo humano de Chronos) foi o resultado de uma série de ideias, que não funcionaram. Eu queria uma criança na história, pelo simples fato de crianças serem sempre assustadoras nesse tipo de história. Primeiro, eu queria que fosse a própria Linumê, depois mudou para um menino, mas eu não estava satisfeita. Ao reler, percebi que Chronos precisava estar presente na Hospedaria. Seu amor pela fada tinha que ser expressado em carne e pele. Fui então ajustando sua idade até ele chegar os dezesseis anos, e lá ficar. Assim surgiu meu personagem favorito [nota do blog: o meu também!].

Conheça a música-tema do livro, citada pela autora.

2. Uma hospedaria destinada a atrair quem deixou, um dia, seus sonhos morrerem sem nunca serem realizados. Como foi criar esse ambiente incrível?

A ideia surgiu das minhas viagens diárias de trem. Eu vejo muita gente infeliz por aqui. Basta olhar em seus olhos, logo se vê que falta o brilho, falta a garra, faltam sonhos. A vida é aquilo que a gente faz dela. Ela não é fácil, também não é verdade que todos temos as mesmas oportunidades, mas nada disso é motivo para desistir de sonhar. A vida é uma só! Foi assim que eu decidi que a função de Linumê era roubar Sonhos Mortos. Acho que foi também uma maneira de dizer a mim mesma que, se eu não sonhar meus sonhos, há quem os destrua de vez.

 A vida é aquilo que a gente faz dela.

3. Linumê, a protagonista, é uma fada da morte. Ela foge do estereótipo de que fadas são boazinhas. Qual foi sua motivação ao criá-la?

Não gosto de fadas. Desde criança tenho medo delas. Sempre preferi as bruxas. Claro que não somente por isso. Linumê foi baseada em mitologias galesas sobre fadas, onde elas são seres sombrios mesmo. Não fui eu que inventei o boato. Eu só sabia disso. Instintivamente. Fadas nunca me enganaram. (risos) Mas, brincadeiras à parte, na minha opinião seres obscuros são simplesmente mais excitantes. É muito mais interessante ver conflitos internos, acompanhar a luta de alguém contra sua própria consciência, a observar alguém bom, fazendo coisas boas. Para mim, o fato de ela ser uma fada da morte a tornou uma personagem mais forte e palpável.

Uma das qualidades que mais prezo na C.A. Saltoris é a capacidade de dar vida aos personagens.
Esse é o cosplay da protagonista Linumê, realizado pela própria autora.

4. Ah, Mathew... Mais uma vez, você fugiu do padrão ao criar um personagem que não é durão ou destemido. Na verdade, ele é bom e bastante comum. De onde Mathew surgiu?

Mathew é real. Eu o vejo todos os dias. Tenho tantos amigos como ele. Sempre me pergunto onde estão os "Mathews" na ficção? Onde estão esses homens reais, e também frágeis? Me parece que a sociedade ignora a fragilidade masculina. Não aceita seus suspiros nem suas lágrimas. Mathew tem uma alma branda e romântica. E não o acho chato e nem fraco por causa disso. Eu amo o Mathew! Seu sonho morto foi aquele escolhido, exatamente, porque é tabu. Ainda é. E isso é machismo. Olha a ironia. Se eu te dissesse quantos homens eu conheço com o mesmo sonho dele, você não acreditaria.

MQS: Adorei sua resposta. Não havia considerado Mathew como uma crítica ao machismo, achei de ótima tônica tê-lo feito. Acredito que esse personagem realmente valoriza a expressão de sentimentos dos homens.

5. Seu livro A História Esquecida da Hospedaria na Estrada é notadamente diferente. Para começar, você criou dois ambientes sobrenaturais: a Hospedaria e o Submundo. Então, ousou trazer como narrador Chronos. Mudou o conceito bondoso que temos das fadas e as tornou responsáveis pela morte. Trouxe como protagonista um rapaz bonzinho. E, para concluir, desenvolveu um romance dramático. Eu preciso saber: Como todos esses elementos foram parar juntos?

Essa é difícil! (risos) Mas, vamos lá:

Sobre a Hospedaria e o Submundo não há segredo. Na minha cabeça, era exatamente isso o que eles cantavam em Hotel California. Nunca que, para mim, aquele hotel foi outra coisa a não ser um portal para o Submundo. Morri de desgosto quando descobri que estava errada, então, fui lá e fiz certo. (risos) A Linumê também sempre foi uma fada da morte, para mim. A mulher com a vela na mão. Nunca houve outra definição para ela. Não na minha cabeça. A partir daí, depois que estava certo que o narrador seria Chronos/Chris, tudo fluiu de maneira muito natural, eu deixei os personagens agirem por si próprios e fui costurando os pontos soltos. O drama no romance entre Linumê e Mathew surgiu da minha vontade de falar sobre os efeitos do tempo em nossas vidas. Achei a ideia poética e lógica, dentro do contexto do livro. Como já disse mais acima, eu gosto de conflitos, de dificuldades, de decisões e de apresentar suas consequências. Mas não posso explicar a ligação disso com a história aqui, pois seria spoiler. E o drama também existe, por um motivo simples, e não menos importante: eu não gosto de histórias de amor. Se tiver que ser uma, que seja plausível.

6. Recentemente, você lançou A História Esquecida da Hospedaria na Estrada em Londres! E também o apresentou em Lisboa. Uau! Conte-nos um pouco sobre essa experiência.

Eu sou bastante aventureira. Quando apareceu a oportunidade através da ZL Editora, eu não pensei duas vezes, e lá estava eu de malas feitas, sozinha no metrô da bela Londres. Foi uma experiência única e fantástica fazer parte de um evento como esses. Dar uma ollhadinha por detrás das coxias de uma Feira Internacional de Livros é mágico. Senti como se eu fosse gente grande. (risos) Portugal não foi diferente. Os portugueses são encantadores, receptivos e sorridentes. Alguns se surpreenderam com o fato de eu ser – uma mulher – brasileira e escrever Dark Fantasy. E eu me surpreendi com essa surpresa. Eu sempre fui dark e conheço tantas outras, que também são. Acho que precisamos mudar esta imagem, não?

Depois dessas participações, eu decidi que quero expandir esse movimento. Foi também em Londres, que a Jô Ramos e eu fechamos parceria. Agora, estamos programando juntas o Salão do Livro de Berlim, para 2016. Contamos com a participação de vários artistas brasileiros. Estou super animada em mostrar à Europa que o Brasil não é só Carnaval, Futebol e bunda.

Jogo Rápido

C.A. Saltoris é… 

Mil pessoas em uma.

Ao ler seus textos, o leitor pode esperar...

Nada do que ele espera.

Um sonho que você tem é...

Andar pelas ruas do Rio sem medo.

Um autor favorito é...

Hoje vou dizer Monteiro Lobato. O Sítio do Picapau Amarelo marcou muito minha infância.

Um livro que recomenda é...

Hoje, A Mecânica do Coração – Mathias Malzieu.

Meu próximo projeto literário...

Fala sobre uma doença incurável e imortalidade.

[Nota do MQS: O projeto literário mencionado é o conto A Ponte Feita de Luar, já disponível na Amazon.]

Gostei
muito de entrevistar a C.A. Saltoris. Sua criatividade sempre me encanta e A História da Hospedaria na Estrada é uma obra que merece ser apreciada por quem gosta dos gêneros dark fantasy, romance e sobrenatural.

 Sobre o livro:

Título: A História Esquecida da Hospedaria na Estrada

Autora: C.A. Saltoris

Editora: Chiado | 2014 | 352 páginas

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Sinopse: Era uma vez... Uma fria noite de outono, em um país do Hemisfério Norte do terceiro planeta do Sistema Solar da Via Láctea, chamado Terra... Quando Mathew Roberts parte para visitar seu irmão em coma, ele é obrigado por seu estranho e repentino cansaço a hospedar-se em um hotel na beira da estrada. Ao ser recebido por uma jovem mulher com uma vela na mão, ele sente um frio descer-lhe pela espinha, mas não tem forças para voltar; como se ela fosse o imã e ele o metal. Ao pisar na recepção, ele começa a perder a memória.

O TEMPO PASSA. ININTERRUPTAMENTE. E É ELE QUEM NARRA ESTA HISTÓRIA.

Este é um Conto de Fadas... da Morte, sobre: criaturas não-humanas um deus na puberdade um amor impossível escolhas e Sonhos Mortos.

Assista ao Book Trailer:

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C.A. Saltoris é uma atriz, diretora e jornalista carioca. Hoje quase tão alemã quanto brasileira. A autora iniciou sua vida artística cedo, aos onze anos subia nos palcos e já aos doze, ela recebia seu primeiro prêmio literário, de poesia, aos dezesseis, seu primeiro prêmio de melhor texto, por uma peça teatral, em um festival no Rio de Janeiro. A arte é para si a maneira que encontra de assimilar situações e pessoas, de questionar e tentar compreender o comportamento humano. Seus livros são seus diários, seus terapeutas, sua visão de mundo. Saltoris é membro de duas Associações de Jornalistas alemães, para as quais ela escreve artigos sobre jovens artistas. Como atriz, ela trabalha no teatro e em frente às câmeras. Ela mora no norte da Alemanha com o marido e seu cão da raça Bernese chamado Leo.

Outra obra da autora:

Título: Banshee, Os Guardiões – Trilogia da Salvação, vol. 1

Autora: C.A. Saltoris

Editora: Selo Jovem | 2014 | 325 páginas

Skoob | Fanpage | Resenha

Sinopse: Aos vinte e seis anos, tudo o que Brianna Namara queria era encontrar a cura para a sua esquizofrenia e o paradeiro de sua família. Ao descobrir-se herdeira do trono, no distante planeta Banshee, sua vida vira de pernas para o ar. Em seu novo mundo, que, para sua surpresa ainda vive na Idade Média, a jovem será treinada para lutar à frente do Exército Real, assumir o governo do continente e reunificar seu reino, para tentar vencer os guerreiros da irmandade de magia negra Maleficus Animus. Com humor, um quê de ironia, medo de fadas e crises de abstinência, Brianna tenta, em meio a muitas aventuras, brigas com o Conselho Real e segredos mágicos, tornar-se a rainha que o seu reino precisa que seja, tendo sempre a seu lado seu cavalo alado e falante Pégasus. Com seu arrogante e charmoso capitão Lugh, e seu mais novo amigo de infância, o belo tenente Cahan, ela acaba por envolver-se em um triângulo amoroso que traz consigo discórdia e um mistério incompreensível. E na luta para salvar o Amor do Universo, Brianna sentirá na pele as dores causadas por uma guerra divina, que os Deuses deixaram nas mãos de mortais sem preocuparem-se com as consequências.

Contos da autora publicados na Amazon:

[confira as minhas opiniões sobre os contos ~ aqui]

A

C.A. Saltoris é uma das autoras mais incríveis que tenho a oportunidade de acompanhar. Li seus contos e ambos os livros. ADORO o modo como desenvolve seus enredos, sempre surpreendendo na caracterização dos seus personagens.

E vocês?

O que acharam da autora?

Quero muito saber se pretendem ler A História Esquecida da Hospedaria na Estrada!

Essa entrevista faz parte da Maratona Setembro Nacional, saiba mais: