Resenha 35 | Enquanto a Chuva Caía

em 21.6.14
Título: Enquanto a Chuva Caía
Autora: Christine M.
Editora [parceira]: Novo Conceito (Selo Novas Páginas, 2014, 288 páginas)
Sinopse: Erik não procura mais a garota dos seus sonhos. Vive em busca de adrenalina e de uma razão para continuar cumprindo tarefas obscuras. Ele sabe que é muito bom no que faz e não vê nada que possa ser melhor do que os seus dias repletos de perigo. O que Erik não esperava é que sua paixão por correr riscos seria a sua ruína. Ameaçado, ele precisa fugir para o exterior e viver disfarçado de cidadão comum, trabalhando como advogado em uma grande empresa.Marina comanda o império da família depois de seu pai ter sucumbido ao mal de Alzheimer. Precisa suportar ver os pais tombarem diante da ação implacável do tempo, enquanto ainda carrega a ferida provocada pela morte do jovem marido. Com o comando das empresas nas mãos, ela percebe que nem todas as atividades da corporação obedecem aos manuais de boa conduta. Quando ambos se encontram, presente e passado se misturam, dando início a um mistério arrebatador que os atrai a uma paixão incontrolável. No entanto, os segredos, cedo ou tarde, virão à tona e os colocarão em lados opostos da balança. Nenhum dos dois é inocente, mas será que eles aceitarão as verdades que tanto se empenham em esconder? É possível construir um futuro mesmo depois de descobrir que nesta história não há mocinha nem herói?

Resenha

Quando soube do lançamento de Enquanto a Chuva Caía, antes mesmo do blog se tornar parceiro da Novo Conceito, já o havia adicionado entre os meus livros desejados especialmente por se tratar de um livro nacional. A sinopse me transmitia a impressão de que encontraria mais ação e investigação do que propriamente romance. No entanto, o enfoque do livro me surpreendeu!

Narrado em primeira pessoa, de modo alternado entre os personagens, neste livro conhecemos Marina e Erik. Ela é a atual presidente de uma empresa multimilionária nos Estados Unidos, solitária e viúva com apenas 25 anos. Ele é um advogado brasileiro que leva uma vida dupla: sem constar na folha de pagamento, atua como investigador para a polícia e age de maneira violenta para obter as informações que precisa.

Devido às últimas investigações do Erik, nas quais acabou matando alguns bandidos, sua vida e a de sua única irmã acabam ficando em risco. Por isso, Erik é orientado a passar algum tempo nos Estados Unidos. Obviamente, não quer ser apenas um entediado advogado, sem suas aventuras perigosas, mas não tem opções. Ao chegar em Nova York, Erik já estava com um excelente cargo garantido justamente na empresa de Marina.

É assim que os destinos de Marina e Erik convergem. Desde o primeiro momento em que ele a viu, houve um interesse inexplicável. Mas ela só o notou fora dos muros da empresa, enquanto a chuva caía e seu pneu era trocado por quem acabava de se apresentar com um dos seus empregados. Sabe aquela atração que se sente quando se encontra alguém intrigante? Marina não era como Erik imaginava. Ela parecia uma mulher jovial, encantadora e simples demais para quem dirigia uma das maiores empresas do continente americano. E Erik não parecia um advogado qualquer com seus movimentos fluídos, sorriso charmoso e frases sarcasticamente humoradas. Houve faíscas na sua interação, embora não houvesse anjos cantando e uma luz brilhante que os destacassem um para o outro. Não foi algo mágico, apenas real para os dois.

Esse é o ponto alto do livro em minha opinião. Christine M. é uma autora que soube trabalhar o romance de um jeito real, embora as conspirações e a maldade inerentes à Marina e ao Erik fossem suficientes para torná-lo idealizado. A autora optou por revelar os dramas e as dificuldades de iniciar e manter um relacionamento. Não é fácil confiar em alguém que parece tão amargo e ferido quanto você. Não é fácil, principalmente, revelar suas fragilidades quando se quer continuar sendo aquela pessoa incrível que existe quando se está escondendo a própria miséria. Não se é incrível sob as feridas. Não sobra beleza na melancolia ou solidão. Mas quando se baixa a guarda e se permite amar e ser amado, parece que o vínculo construído é maior e mais forte do que todos os segredos e erros que guardamos.

Há a ação prometida na sinopse, mas o enfoque é a vida amorosa de Erik e Marina. Gostei muito da narrativa poética e introspectiva da autora, porque revelou o encanto até mesmo dos pequenos gestos e combinou perfeitamente com a história. Dizem que é impossível sustentar o amor quando não se tem confiança, mas e quando este sentimento é maior do que nossos temores em relação ao outro? Enquanto a Chuva Caía apresenta esse tipo de amor, que começou despretensioso e se manteve justamente quando os segredos revelados machucavam e o futuro parecia completamente incerto.

O livro também aborda de maneira sensível alguns temas complexos: a doença de Alzheimer, o luto, a violência doméstica, a ética corporativa e a justiça. Por tudo isso, adorei lê-lo! Considerei como aspecto negativo o fato de que, sendo tão centrado nos sentimentos e pensamentos dos personagens, a narrativa soou um pouco cansativa em alguns momentos. Mas os capítulos curtos fizeram a leitura fluir rapidamente e logo alcancei o final do livro com um sorriso no rosto. Avalio-o como uma ótima leitura e o recomendo a quem procura por um romance verdadeiro.

A diagramação está maravilhosa! A capa é linda e cada capítulo começa com o fragmento de uma música brasileira. Vale muito a pena ler.

*Agradeço o carinho da Editora Novo Conceito em me oferecer este exemplar de cortesia.*

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Avaliação:

Meus quotes favoritos [são muitos!]:

É no perigo que eu me sinto em casa, e é na bagunça das minhas identidades que eu sei quem sou. (p. 23)

A vida tem mania de me dar pessoas maravilhosas por prazos insuficientes. (p. 26)

A melhor parte dele é não me sufocar, não exigir conversas intermináveis nem abraços sentidos. Ele fica perto o suficiente para me socorrer e longe o bastante para me fazer acreditar que minhas imensas e ridículas quedas são apenas escorregões corriqueiros. Acho que essa é a melhor definição de amigo que eu consigo imaginar. (p. 48)

Talvez se sentir em casa não seja uma condição geográfica. Talvez seja um estado de espírito que eu precise aprimorar. (p. 53)

Não sei o motivo de eu ter escolhido conhecê-lo, mas cada detalhe faz com que a razão não importe. (p. 85)

É possível que as pequenas coisas boas se resumam inexplicavelmente a uma única pessoa? (p. 132)

O egoísmo nos faz acreditar que ninguém é capaz de sofrer mais do que nós mesmos. (...) Não notamos o sofrimento alheio porque, na maior parte do tempo, estamos ocupados sentindo pena de nós mesmos. (p. 167-168)

– Sabe Erik, eu aprendi que não adianta querer evitar as coisas ruins; elas vêm de um jeito ou de outro. Então, pra quê adiar as boas? Essas sim podem acabar não vindo nunca. (p. 183)

A verdade é que eu não sei equilibrar o desejo de proximidade com o medo da intimidade, pois querer o todo do outro inclui oferecer o seu todo, e eu tenho um pedaço do qual não me orgulho e que prefiro manter escondido. (p. 187)

Ninguém costuma dizer que os relacionamentos são difíceis, até mesmo os que são bonitos, sinceros e bons.(p. 203)

Prometer é ainda mais perigoso do que o silêncio. (p. 207)

...toda escolha tem uma imensa margem de erro que a gente costuma ignorar para ter coragem de decidir. (p. 207)

Talvez a felicidade não seja só aquela parte deliciosa da paixão, a descoberta do outro e as alegrias do namoro. Talvez ser feliz seja somente confiar que a tristeza não será eterna, que dias bons e ruins se alternarão e que em todos eles vai existir quem te faça companhia. (p. 268)

Tudo bem as coisas serem confusas. Você me ensinou que eu não preciso de respostas desde que entre todas as dúvidas haja eu e você. (p. 284)

E o que mais gostei:

– Eu não prometo que nunca vou errar, mas eu vou tentar consertar esses erros todas as vezes. Não posso jurar que jamais vou te magoar, mas juro que nunca vai ser intencionalmente. Marina, é você, com todas as suas encrencas, que eu quero na minha vida, mas eu preciso saber se você ainda me quer na sua. (p. 263)

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6 comentários:

  1. Olá Francine. Achei o livro bem interessante. Gosto de histórias com esse enredo. Vou procurar para comprar. Obrigada pela dica. Abços.

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  2. Amei sua resenha, Francine! Vc 'descascou' o livro, mostrou os pontos importantes, onde a trama é focada, os poucos detalhes cansativos... enfim, acho que é um livro feito pra mim! Gosto dos conflitos, do envolvimento dos personagens, de acompanhar o que sentem e pensam, de mergulhar no psicológico deles. Perfeito!
    Beijo!

    Minha nova resenha, adorarei saber sua opinião:
    Ler para divertir

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  3. cara definitivamente eu vou ler esse livro.
    eu não sabia que a história seria assim e eu gosto de romances mai reais e não aquela coisa possessiva absurdamente irreal que tenho lido ultimamente.

    Seguindo o Coelho Branco

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  4. Não gosto muito de romances, mas, por esse ser real, já ganha pontos e talvez eu leia por isso.
    Por ser um livro de uma autora brasileira, é mais um motivo para leitura.
    Adorei a resenha.

    M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de junho

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  5. Ola Fran, confesso que este livro não seria a mais apropriada para mim no momento, veio correndo de leituras meio que consideradas cansativas, pois minha ultima experiencia deixei um livro rolando da bolsa por uns 4 meses.

    Mas amei conhecer mais sobre o livro a autora pois não teria estas perspectivas se não fosse sua ótima resenha.

    Mesmo assim vou gravar bem este nome ^^

    Beijos Joi Cardoso
    Estante Diagonal

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  6. Oi Francine! Que resenha!!!!
    Não conhecia o livro, porém fiquei louca para conhecer, e rápido!
    Bjos
    aculpaedosleitores.blogspot.com

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