[Entrevista] Luciana do Rocio Mallon

em 23.5.14
V
amos a mais uma entrevista para a Ação Eu Valorizo a Literatura Nacional?

Desta vez apresento a vocês uma autora que aborda um gênero bastante peculiar na literatura: as lendas e os mitos. O mais interessante (ao menos para mim, haha) é que ela mora na minha cidade e me senti bastante orgulhosa por conhecer o seu trabalho.

Vamos conhecer a Luciana do Rocio Mallon, autora do livro Lendas Curitibanas!


1. Como foi seu primeiro contato com a leitura?

LRM: Na verdade, não me lembro ao certo. Mas acredito que seja por volta dos 4 anos, pois minha tia costumava me dar livros de presente. Lembro que aos 5 anos eu gostava de folhear uma coluna infantil chamada Gazetinha do Jornal Gazeta do Povo. 


2. Na infância, qual era sua relação com os livros? 

LRM: Eu lia todo o tipo de leitura que caía na minha mão, desde livro infantil até bula de remédio. 


3. Quando você começou a escrever? 

LRM: Comecei a escrever aos 6 anos de idade, logo que fui alfabetizada na escola. 


4. Quais são suas inspirações para escrever? Tem algum autor ou livro como referência? 

LRM: Eu uso como inspirações: as pessoas do povo e as notícias populares. Gosto de escritores como: Machado de Assis, Dalton Trevisan, Cecília Meireles, Paulo Leminski, Mário Quintana, Salsidc, entre outros. 


5. Sua produção literária é peculiar, pois envolve a narrativa de lendas e mitos. Poderia descrevê-la um pouquinho? Como é seu processo criativo ao desenvolver suas histórias? 

O dicionário define lenda como mitos e causos que são contados de geração em geração. Mas, na realidade, o significado desta palavra vai além desta mera definição. Eu me interesso por lendas urbanas desde os seis anos de idade, pois minha família tem o costume de contá-las para as crianças. Aos onze anos descobri uma espécie de porão que havia na casa da minha avó materna. Um dia entrei às escondidas lá e descobri que meu falecido bisavô, Torres, estudava os mitos da cidade de Curitiba. Em 2002, com medo que estas estórias ficassem somente entre minha família, resolvi colocá-las na Internet, ao mesmo tempo que eu caçava outros causos. Muitas pessoas perguntam o porquê eu corro atrás das lendas urbanas do Paraná. Então eu respondo assim: há vários motivos para eu pesquisar estas estórias, tudo porque atrás de um causo há um pingo de verdade e muitas vezes esta verdade possui uma razão histórica. Afinal, resgatar lendas é uma maneira de estudar a História do lugar e passá-la de geração em geração de uma forma divertida e não monótona, como muitas vezes acontece dentro de uma sala de aula. Outro fator que me leva a pesquisar as lendas urbanas do Paraná é que estas estórias possuem o dom de elevar a autoestima das pessoas do lugar. Infelizmente, o Paraná é o único Estado do sul do Brasil que ficou sem símbolo definido. Afinal, o Rio Grande do Sul tem como representante o homem com típicas roupas de gaúcho e Santa Catarina tem como símbolo o casal vestido com roupas alemãs. E o Paraná? O que tem como símbolo? Seria a araucária? Seria a Gralha Azul? Ora, conforme vamos resgatando as suas lendas chegaremos ao seu símbolo ideal. Antigamente as pessoas de uma determinada região possuíam uma autoestima elevada. Pois, naquela época, havia o costume das pessoas se reunirem em torno de uma fogueira para escutarem o mestre que contava lendas. Infelizmente, pouco a pouco, esta tradição perdeu-se e é preciso resgatá-la de alguma maneira. Através deste texto é possível concluir que as lendas urbanas são pistas históricas importantes para o estudo de uma região. 

MQS: Adorei a resposta da autora! Quantas vezes, nos últimos anos, paramos ao lado de uma pessoa mais velha para ouvi-la contar histórias da região em que vive? E quantas vezes consideramos o valor mnemônico por detrás destas histórias? É um registro oral muito rico e que realmente mereceria muitos livros!

6. Quanto tempo levou para escrever Lendas Curitibanas e como foi a experiência?

LRM: Na verdade, o livro Lendas Curitibanas é uma coletânea de causos selecionados, pelo editor Anthony Leahy, que escrevo desde 2001. Na verdade, eu não esperava escrever um livro. Pois, já tinha perdido as esperanças porque para escrever livros, no Brasil, a maioria das editoras cobra dinheiro por parte do autor. Em 2010, o jornalista Hélio Puglielli falou que eu poderia publicar, gratuitamente, na editora chamada: Instituto Memória de propriedade do Anthony Leahy. Assim mandei alguns textos para este editor e ele apreciou. 


7. Entre os seus escritos, há algum que se destaque para você? Por quê? Este escrito em destaque é acessível virtualmente ou está presente no seu livro impresso? 

LRM: Eu gosto muito das lendas que envolvem os animais, porque lidam com uma Filosofia chamada Xamanismo. Antes dos brancos desembargarem no Brasil, os índios já moravam aqui. No caso de Curitiba, os nativos que estavam aqui utilizavam totens, ou seja, alguns deuses eram metade animais e metade humanos. O tempo passou, mas isto ficou em nossas raízes. Tanto que as lendas sobre bichos são as mais lidas e apreciadas. Exemplos: Jacaré do Parque Barigui, Gato Boris da Livraria, Mula Milagrosa da Igreja dos Passarinhos, Tatu do Bairro Tatuquara, Toca do Peixe de Piraquara, Gato Kiko da Loja Kisses, etc. 

Curiosidade: Que interessante! Li e gostei de alguns dos textos citados. Quer conferir? Você pode acessá-los aqui.

8. Quais cuidados considera relevantes ao escrever lendas e mitos? Você produz lendas e mitos de outras regiões, além do Paraná? 

LRM: Bem, primeiro eu pesquiso com as pessoas do povo através de relatos orais e depois procuro notícias em jornais populares. Realmente, uma lenda nunca reproduz a realidade. Porém, precisa mexer com a imaginação das pessoas. Eu lido com causos do mundo inteiro e até interplanetários. 

MQS: O que mais gostei no processo de criação da autora é a especial audiência ao que o povo conta! O nosso cotidiano é tão repleto de elementos que poderiam se tornar populares histórias se as narrássemos. Estou encantada com a iniciativa da Luciana.

9. Além de escritora de lendas e mitos, você também é repentista – capaz de criar rapidamente uma poesia com qualquer palavra! Achei muito interessante tal habilidade. Como a desenvolveu? Poderia nos presentear com uma de suas criações utilizando alguma palavra que você aprecie? 

Tudo começou com uma brincadeira de rimar quando eu tinha seis anos de idade, no bairro em que eu morava.

Estou respondendo a uma entrevista 
Para Francine, esta grande jornalista 
Que sempre entrevista um bom artista 
Não posso perdê-la de vista! 

Conversando sobre lendas 
Atravesso mil sendas. 

MQS: ADOREI! (embora não seja jornalista, rs) *o* Não é qualquer pessoa capaz de produzir poesias tão rapidamente.

10. Além do seu livro Lendas Curitibanas, há outros projetos literários previstos? 

LRM: No momento ainda não. Porém o editor Anthony Healy não descartou a possibilidade da editora lançar um livro chamado Lendas Paranaenses


11. Quais são as dificuldades para que um autor consiga ser publicado e conhecido no mercado literário brasileiro? 

LRM: O problema é que muitas editoras cobram dos autores para que eles sejam publicados. Por isto a maioria dos escritores do Brasil pertence à classe média alta, fato que é discriminatório. Pois, temos excelentes artistas na periferia e que deveriam ser divulgados. 

MQS: Concordo com a autora que a cobrança para a publicação de livros limita o público escritor somente àquele que pode pagar. Desejo que todo autor possa ter a oportunidade de, um dia, ter seu próprio livro nas mãos dos leitores.

12. Como você vê a literatura brasileira atualmente? Quais são suas expectativas quanto a ela? 

LRM: Os autores mais interessantes da Literatura Brasileira, do século XXI, estão na Internet. Eles colocam seus escritos em blogs e isto é uma verdadeira revolução cultural. Também admiro a Literatura de cordel. A revolução literária realizada através da Internet tende a mostrar novos talentos, que numa outra época, não teriam oportunidades.


13. Qual livro nacional você recomenda? Por quê? 

LRM: Todo o brasileiro deveria ler Dom Casmurro, de Machado de Assis, pois é a passagem do Romantismo para o Realismo, sem falar que Machado é um excelente mestre. 


14. Deixe um recado aos leitores, incentivando a conhecer suas publicações e a literatura brasileira! 

LRM: Prezados leitores, para que uma pessoa se sinta realizada como ser humano é necessário que ela conheça as suas raízes. Isto é possível através da Literatura, principalmente, a baseada na cultura popular. Escrevi um livro chamado Lendas Curitibanas e através destes textos é possível conhecer um pouco da cultura do Brasil.

MQS: Adorei conhecê-la, Luciana! Desejo muito sucesso a você e agradeço seu carinho em partilhar conosco a sua experiência como escritora.

Que
tal aceitar ao convite da autora e valorizar, além da literatura nacional, a  cultura regional? Comece conhecendo o livro dela:




Sinopse: Através deste livro é possível concluir que as lendas urbanas são pistas históricas importantes para o estudo de uma região e seu povo.
Para elaborar os textos, vou atrás de qualquer indício, sempre buscando harmonizar as tradições orais, informais, com as fontes históricas. Foram centenas de depoimentos, especialmente dos idosos.







Interessou-se pelo livro?


O que achou da entrevista?
Comente sua opinião sobre o livro da autora e a publicação de mitos e lendas!


7 comentários:

  1. AMEI a entrevista, Fran! sou APAIXONADA pelos contos populares e lendas, então essa entrevista foi devorada com muito entusiasmo! Obrigada por nos trazer a obra dessa artista, nossa conterrânea! \o/ As perguntas foram muito bem colocadas e a observação dela sobre os autores nos dias de hoje e a falta da valorização das lendas que constroem nossa sociedade atual... É muito bom ver que ainda existem pessoas interessadas no que é nosso e divulgar! "O Bode com a Onça" é uma história que ouço desde pequena e nessas horas bate a nostalgia de quando sentar para ouvir meus avós e suas lendas consumiam minhas horas e as energias deles, haha Realmente, muito bom! <3

    Excelente entrevista, sempre muito profissional ;3

    Abraços!

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  2. Olá Francine,

    Não conhecia a autora e nem o livro, gostei demais da entrevista e do livro que ela recomenda, apesar de ainda não ter lido, fiquei curioso com a obra, gosto demais de Curitiba, minha primas moram lá e essa capa do Jardim Botânico é muito bonita.....abraços.


    devoradordeletras.blogspot.com.br

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  3. Olá, Francine. A entrevista que a Luciana deu para você foi uma beleza. Tomara que ela prepare o Lendas Paranaenses. As histórias alheias são as melhores, só uma boa autora consegue sair de suas tramas para entrar nas de outros. Viva a Luciana, nossa autora repentista.

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  4. Oi Fran!
    Ainda não conhecia a autora e achei super valida a iniciativa dela de relatar os "causos" da sua região. Hoje com tanta tecnologia as pessoas não param para escutar os mais velhos e com isso, muitas coisas vão se perdendo. Sou super aficionada em estórias urbanas, sendo assim óbvio que vou colocar na minha lista de desejados.

    Beijinhos

    Books and Movies
    www.booksandmovies.com.br/

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  5. Parabéns pela excelente entrevista formulada por você para a Luciana.
    Em sendo possível encaminhe para ela mais uma lenda curitibana:
    quando eu era ainda pequena, estava nas dependências do armazém de meus pais e minha mãe diariamente ouvia o Sérgio Fraga na Revista Matinal que mais tarde foi, até onde me lembro, foi dada a continuidade desse programa com o Algacy Túlio; portanto, foi na época de um desses dois apresentadores líderes em audiência em uma época que ainda não existia televisão nos lares brasileiros, que ouvi e me arrepiei toda com a tal notícia que a seguir relato:
    continua na parte 2 abaixo

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  6. Muito boa a tua entrevista... faz a gente refletir a respeito da importância de resgatar nosso patrimônio Cultural, e nada melhor que fazer lo através da nossa história contada boca a boca, sem maiores interferências, assim podemos preservar a nossa verdadeira identidade.

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  7. http://sandracapriles.blogspot.com.br/2014/08/

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