Resenha 30 | Legado de Sangue

Título: Legado de Sangue
Autora: Raquel Pagno
Publicação independente (2013, 435 páginas)

Sinopse: Carmem sempre ouvira as tristes histórias de Francesca. Adorava cada frase saída da boca enrugada da avó, mas sentia que a verdade estava escondida nas linhas de seu rosto, presa em um coração saturado de sofrimentos. Foi em uma noite de lua cheia que ela finalmente lhe contara a verdade: seu antepassado era um vampiro, Carmem era a herdeira do Rubi de Sangue e do poderoso sangue das bruxas, o único alimento capaz de saciá-lo completamente, e que ao mesmo tempo era para ele mais letal do que qualquer veneno; e era a única capaz de gerar um filho para salvá-lo da extinção. Apaixonada, Carmem segue o seu caminho rumo ao destino que a aguarda. Miguel deseja o seu sangue, e ela, a imortalidade dele.

Resenha

Li Legado de Sangue por meio do Book Tour organizado pelo blog A Cada Livro, um Novo Mundo, ao qual agradeço pela oportunidade.

Para quem aprecia romances sobrenaturais envolvendo vampiros e bruxos, Legado de Sangue é uma ótima opção. Dividido em duas partes, o livro apresenta duas protagonistas: Francesca e Carmem. Na primeira parte, conhecemos Francesca, uma italiana que vivia o sofrimento da guerra em 1934. Seus pais morreram quando ainda era jovem, mas não antes de casá-la com um marido que não tinha idade suficiente nem para ser chamado à guerra. Francesca e seu marido apenas sobreviviam em meio à pobreza, mas conseguiram mesmo nestas condições constituírem uma família: tiveram uma filha, chamada Teresa, e outro bebê estava para nascer. 

Então, o jovem e assustado marido de Francesca foi convocado para a guerra. O casal decidiu, com isso, fugir para a América. Devo dizer que a autora foi muito hábil em descrever o contexto da imigração. Emocionei-me, não apenas uma vez, com o sofrimento da Francesca quando seu marido foi impedido de embarcar no navio e viu-a partir junto à filha e o bebê que ainda nem nascera. Não sabiam para qual destino o navio os levaria e muitos passageiros morreram à bordo. Sabemos que o Brasil é repleto de imigrantes desse período, mas confesso que nunca refleti sensivelmente sobre como chegaram às nossas terras.

É no Brasil que a história se desenvolve. Francesca desembarca do navio com Teresa e Marco, que nascera durante a longa viagem. Desnutridos, cansados, assustados... são colocados à mercê dos fazendeiros e outras autoridades para serem escolhidos como trabalhadores. É assim que a vida de Francesca se entrelaça à de Miguel, que a acolhe junto às duas crianças.

Francesca, que já estava numa situação delicada, recebe uma proposta de Miguel: dar-lhe um filho e, em troca, toda a propriedade e seus luxos seriam dela. Caso contrário, teria que partir junto com suas crianças para sabe-se lá o que os aguardasse nestas terras estrangeiras. Achei completamente compreensível a escolha dela, mas nem Francesca e tampouco o leitor poderiam prever todo o horror que Miguel lhe trouxe. Aceitar a proposta de Miguel foi sua ruína e durante toda a primeira parte do livro me senti conectada ao sofrimento e à impotência de Francesca. Chorei enquanto lia, como há anos não chorava com um livro.

Não pretendo revelar muito mais que isso. Basta saberem que Legado de Sangue nos apresenta um vampiro cruel, disposto a qualquer atrocidade para que a sua herança maldita perdure na eternidade. Durante a segunda parte do livro temos uma Francesca já idosa e a protagonista narradora é sua neta Carmem. Não me senti cativada pela Carmem tanto quanto pela sua avó. Enquanto Francesca nada tinha além da esperança do que Miguel lhe oferecia, Carmem tinha uma família que a amava (avó, mãe e irmã) e sabia sobre todo o passado, mas mesmo assim escolheu render-se à sedução de Miguel. Senti-me revoltada por isso (rs). Eu também não acolhi a versão de Miguel sobre o passado vivido com Francesca e, embora sedutor, este vampiro não me faria cair em seus braços.

A narrativa da Raquel Pagno é maravilhosa e lírica, transbordando de metáforas poéticas. Devido às detalhadas descrições, no entanto, em alguns momentos senti-me um pouco cansada durante a leitura. A história é repleta de reviravoltas e completamente diferente de muitos livros que li a respeito de vampiros e bruxos. A capa representa claramente a personalidade e o relacionamento dos personagens. Vale a pena conferir!

Avaliação:

Curiosidade sobre o Book Tour: a autora enviou um caderno junto ao livro para escrevermos nossas impressões e sugestões. Fofo, não é? :}

Quotes favoritos:

Revivi cada momento desde que chegara àquele lugar, onde os dias pareciam ser todos iguais e o tempo não existia, e percebi que não passava de uma prisão, uma cadeia confortável que me abrigaria enquanto eu fosse útil à Miguel. (p. 43)

– ...Não sou um demônio como você pensa, Francesca, eu tenho sentimentos. Eu já amei, amei o suficiente para compreender que o amor também é passageiro, e que o único amor eterno e incondicional, que não pode ser abalado, que não se acaba com o passar do tempo, é o amor que sentimos pelos nossos filhos. (p. 121)

– Oh, eu o odeio tanto, Miguel! – disse antes que saísse. Ele apenas me olhou com seus olhos de punhal:

– Eu nunca pedi que me amasse. (p. 128)

Teresa era minha referência temporal, era só através dela que eu tinha alguma noção de quantos anos se passaram desde que fomos trazidos da Itália. (p. 164)

Uma jovem apaixonada foi no que Teresa se transformara. E eu tinha certeza de que se lutasse contra isso, contra o sentimento inevitável que brotava nela, seria a mim que odiaria, jamais a Miguel. (p. 167)

O demônio em Miguel jamais morreria, ainda que ele assim desejasse e por mais que se esforçasse para tal, era impossível separá-lo do demônio que o habitava. (p. 236)

...quem no mundo haveria de condenar o último vampiro que tentava desesperadamente preservar a sua espécie? (p. 358-359)

| Interessou-se? Adicione o livro à sua estante no Skoob |

O que achou da resenha? 

Leu ou leria este livro?