Resenha 27 | Volkodlák – A Maldição do Tempo

Título: Volkodlák – A Maldição do Tempo (Livro 1)

Autora: Roxane Norris

Editora [parceira]: MODO (2013, 288 páginas)

Sinopse: Neste primeiro volume, A Maldição do Tempo, voltamos à Irlanda do Século XIV, onde a caça às bruxas segue seu rumo impiedosamente. O romance começa na tentativa de Lady Alice salvar seu amante através de rituais pagãos, invocando um antigo espírito: Volkodlák. Contudo, o que era para ser a cura se torna uma maldição para todos os envolvidos no episódio. O jovem amante, Joseph, é condenado a vagar pela terra numa forma meio humana, meio loba. Petronella é queimada viva na fogueira e Lady Alice é dada como desaparecida. Em meio ao caos em que sua vida se transforma, Joseph abandona completamente sua antiga existência. Contudo, certos laços o prendem ao passado e um deles, em especial, se torna a sombra de Joseph. O Bispo, que naquela fatídica noite também perseguia Alice. Mistérios começam a ser desvendados ao longo da trama que arrasta Joseph para várias aventuras, até que chega ao Brasil em meio aos cafezais de 1860, e encontra a bela e misteriosa Yamê.

Resenha

Tive a oportunidade de ler Volkodlák – A Maldição do Tempo por meio do Book Tour organizado pelo blog Every Little Book, ao qual agradeço pelo acolhimento do My Queen Side como participante.

Este livro me encantou de diferentes maneiras! Primeiro, é um romance sobrenatural de muita qualidade – um dos meus gêneros favoritos; segundo, é de autoria da Roxane Norris, a quem conheço há muito tempo por meio das suas fanfictions (que já eram maravilhosas); e terceiro, é um livro nacional que faz qualquer leitor admitir o talento dos nossos autores!

Narrado em terceira pessoa, neste livro conhecemos o protagonista Joseph Butler, que sofria da peste em 1324 e teria morrido se não fosse pela ajuda de Lady Alice, uma misteriosa mulher que estava sob suspeita de bruxaria. Infelizmente, a salvação de Joseph vem acompanhada de uma maldição não-intencional, que o transforma em um lobisomem capaz de sobreviver século após século sem que sua aparência mude.

Ainda que possua instintos mais aguçados e outras habilidades advindas de sua natureza inumana, Joseph não se torna imortal, pois continua vulnerável. O fato de não ter sua aparência alterada com o passar do tempo, no entanto, condena-o à solidão e o motiva a procurar meios para acabar com a maldição! Seu maior obstáculo é o desaparecimento de Lady Alice, que precisou fugir da caça às bruxas empenhada pela Igreja. Ninguém poderá ajudá-lo, senão ela. Os anos passam sem encontrá-la... até que provavelmente esteja morta, restando apenas a esperança de que o dom da magia tenha permanecido entre os ancestrais dela.

Assim, Joseph permanece em busca da reencarnação de Lady Alice e, neste longo e obscuro caminho, descobrimos que a amava. Seu sentimento por essa mulher era tão grandioso que o faz desejar vingança contra aqueles que a mataram: os autonomeados servos de Deus. Morta como bruxa, Lady Alice deixou o seu legado implantado no solitário coração de Joseph.

Volkodlák – A Maldição do Tempo nos leva da Irlanda, em 1324, ao Brasil, em 1864. Considero este um ponto alto da história! A narrativa da autora valoriza cada contexto, apresentando os pormenores da escravidão, da exploração humana sobre a natureza, da forçada conversão ao catolicismo e, especialmente, dos mitos e mistérios entorno da bruxaria. Senti-me vivendo cada momento histórico pela qualidade das descrições.

Outra característica que me agradou foi a revelação do passado de Joseph num momento em que já queria sacudi-lo para que expressasse uma atitude diferente. A autora parecia adivinhar quando sentia raiva dele, apresentando pouco a pouco o seu passado e dissipando os meus conflitos (rs). Gostei muito das descrições sobre a transformação do homem em besta, que enriqueceram minha imaginação de um jeito especial! O desfecho do livro foi formidável, dando indícios de um poderoso vilão que – desde o passado de Joseph – continua a provocar terror! Aguardo ansiosa pelo segundo volume.

Como fragilidade, aponto uma característica peculiar da narrativa: frases iniciadas com gerúndios, como se continuassem aquelas que as antecedem. Do ponto de vista normativo, estariam incorretas, mas fazem parte do estilo da autora. Incomodou-me até que me acostumasse, depois a leitura fluiu com todo o envolvimento prometido na sinopse.

Os aspectos gráficos do livro são maravilhosos! A capa é linda e a cada novo capítulo temos uma bonita ilustração em preto e branco. As mudanças de cena também contam com uma cruz para separá-las e a numeração das páginas têm o contorno de um crucifixo. Achei o conjunto lindo! Há poucos erros de revisão, que não diminuem a qualidade do livro. Recomendo a leitura para qualquer apreciador de romances sobrenaturais e seres do imaginário popular, como lobisomens e bruxas.

Avaliação:

Quotes favoritos:

 

Volkodlák... Ele lembrou que ela o chamara assim.

Olhos dourados na escuridão e a boca cheia de sangue. Era isso que restara? Ele não podia ser essa fera. (p. 20)

– Não o culpo por nada, mas não acho certo passar anos e anos preso dentro de si mesmo, como tem feito. Uma sucessão de erros cometidos pelos outros não justifica os nossos. (p. 74)

– Rejeito-a? – Deteve-a pelo braço, trazendo-a para si até que sua sanidade fosse completamente posta à prova. – Você não sabe o que diz (...).

– Sei o que vejo nos teus olhos... – ela devolveu sem desviar o olhar (...).

– Não é o suficiente para garantir o caráter de um homem (...).

– Nem o suficiente para condená-lo. (p. 78)

– Há várias maneiras de se vencer um inimigo, uma delas é fazê-lo em seu próprio jogo. (p. 85)

– Não posso ficar com você e condená-la a viver no meu mundo. (...) É um mundo escuro e frio, Amie... É tudo o que aprendi a nunca desejar a alguém.

– Está me condenando à mesma existência quando me abandona nos braços dele. (p. 88-89)

– Talvez você esteja certo, mas a moça está disposta a aceitá-lo do modo como é. Esse era seu maior receio – contrapôs firme.

– Ela está cega por seus sentimentos...

– E não é bom que ela os tenha? (p. 92)

– Seu corpo está maduro para ter uma mulher, mas seu espírito não. Não entendes do que é feito e nem quais são os teus limites. (p. 126)

– O que nos cabe nesta vida, não é revelado de uma vez só. – Sorriu-lhe. – Acalma teu coração por hora, pois precisa dele sereno para poder entender quais são as tuas obrigações. (p. 128)

– Não é fácil se tomar decisões – ponderou o pai. – Ao menos, nunca encontrei facilidade em nenhuma que tomei. Até mesmo nas erradas. (p. 143)

– A curiosidade é certamente a maior qualidade e o maior defeito do homem. (...) Grandes descobertas advêm dela e grandes erros também... (p. 272)

Volkodlák – A Maldição do Tempo será encaminhado à próxima participante do Book Tour! :) Acompanhe as opiniões das demais leitoras nos blogs:

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