Resenha 26 | Samantha Sweet, Executiva do Lar

Título: Samantha Sweet, Executiva do Lar
Autora: Sophie Kinsella
Editora: Record (2007, 514 páginas)

Sinopse: Samantha Sweet é uma advogada poderosa em Londres. Trabalha dia e noite, não tem vida social e só se preocupa em ser aceita como a nova sócia do escritório. Ela está acostumada a trabalhar sob pressão, sentindo a adrenalina correr pelas veias. Até que um dia... comete uma grande mancada. Um erro tão gigantesco que pode destruir sua carreira. Samantha desmorona, foge do escritório, entra no primeiro trem que vê e vai parar no meio do nada. Ao pedir informação em uma linda mansão, é confundida com uma candidata a doméstica e lhe oferecem o emprego. Os patrões não fazem ideia de que contrataram uma advogada formada em Cambridge, com QI de 158, e que não tem a menor noção de como ligar um forno! O caos se instala quando Samantha luta com a máquina de lavar... a tábua de passar roupa... e tenta fazer cordon bleu para o jantar... Mas talvez não seja tão incapaz como doméstica quanto imagina. Talvez, com alguma ajuda, ela possa até fingir. Será que seus patrões descobrirão que sua empregada é de fato uma advogada de alto nível? Será que a antiga vida de Samantha irá alcançá-la? E, mesmo se isso acontecer, será que ela vai querer de volta? A história de uma mulher que precisa diminuir o ritmo. Encontrar-se. Apaixonar-se. E descobrir para que serve um ferro de passar.

Resenha

Apresento a vocês outro de meus livros chick-lit favoritos entre os escritos da Sophie Kinsella. Para mim, essa autora é hábil em trazer aos leitores o lado cômico da vida, sem com isso diminuir a importância de cada experiência das suas protagonistas.

Com a narrativa em primeira pessoa, conhecemos Samantha, uma inteligente advogada que dedicou todo o seu tempo à carreira. Ela nunca valorizou nada além da promoção a sócia do escritório, que estava prestes a conquistar depois de longos sete anos completamente envolvida na profissão. Sendo uma workaholic, não é de se espantar que Samantha nada conheça sobre a administração e limpeza de uma casa. Os relacionamentos dela também são influenciados por esse intenso ritmo. Sua mãe, também advogada, por vezes deixou-a sozinha em dias festivos e seu namorado, que trabalha no mesmo escritório, está habituado a olhar com mais carinho seu BlackBerry do que a ela.

Então, por um erro… tudo muda! Um erro milionário, tolo e amador, faz com que Samantha se sinta completamente perdida. Como pôde cometer tal deslize?! Como pôde colocar tudo a perder?! Sem real controle sobre si mesma, Samantha sai do escritório, embarca num trem e vai parar no meio do nada. Cansada, acaba batendo à porta da enorme mansão dos Geiger. Ela é confundida por uma doméstica que veio para ser entrevistada e, já se sentindo incompetente, Samantha quer provar a si mesma que pode obter aquele emprego! Ela mente, descaradamente, todas as suas habilidades e acaba sendo contratada, mas de doméstica não tem nada… Samantha não sabe passar roupa, cozinhar ou polir a prataria. Ela sequer conhece os produtos básicos! Mas ali, distante da cidade, ela consegue se afastar do caos que causou e mantém a farsa.

Ela pega a tábua comigo e em dois movimentos ajustou exatamente na altura certa. 

– Acho que você usava um modelo diferente – acrescenta com sabedoria enquanto ela se trava de novo. – Cada uma tem seus truquezinhos.

– Sem dúvida! – digo agarrando-me com alívio a essa desculpa. – Claro! Estou muito mais acostumada a trabalhar com uma… uma… Nimbus 2000!

Trish me olha, surpresa.

– Essa não é a vassoura do Harry Potter?

Porra. 

Eu sabia que tinha ouvido em algum lugar.

– É. É – digo finalmente, com o rosto em chamas. – E também uma conhecida marca de tábua de passar roupa. Na verdade, acho que o nome da vassoura foi dado… ah… por causa da tábua de passar.

– Verdade? – Trish parece fascinada. – Eu não sabia! (p. 179)

A partir daqui, o livro é uma sucessão de episódios desastrosos! Os Geiger são um casal milionário e cafona, mas têm um coração de ouro. E Samantha consegue enganá-los em cenas que rendem boas risadas! Ela quer provar a si mesma que seu QI de 158 garante sua competência em qualquer função, mas aprende não funcionar assim… Ela é uma péssima empregada doméstica! E jamais poderia se manter no emprego sem a ajuda do maravilhoso jardineiro da casa, Nathaniel.

Fantástico. Fantástico mesmo. Bastou uma olhada no seu corpo e estou com uma paixonite completa. Honestamente, eu achava que era uma pessoa um pouco mais profunda do que isso. (p. 222)

Ah, gente! Nathaniel é incrível. A cada vez que estão juntos, a atração entre eles é inevitável. Um jardineiro nunca foi tão sensual na minha imaginação (haha)! Ele não apenas ensina Samantha a ser uma doméstica decente, mas também a sentir as mínimas reações do seu corpo em meio à excitação. Para quem nunca teve tempo de apreciar o sabor de um beijo ou a pele arrepiar sob uma carícia ousada, Samantha descobre um novo mundo cheio de odores, cores e texturas, para o qual nunca dera atenção.

Estou começando a tremer inteira de desejo. Ele abriu meu sutiã duas fileiras atrás. Descartei a calcinha. Ele abriu a fivela do cinto. E ainda, ainda estamos colhendo framboesas. (…) Preciso tê-lo. Ele precisa notar. Não sei mais o que fazer. (p. 315)

Neste livro, com muito humor e romance, Samantha reaprende a viver… Ela finalmente consegue contemplar a paisagem através da janela ou se entusiasmar com os raios de sol contra a pele e, o que seria apenas uma temporária fuga, ganha um valor enorme. Mas, as pendências que abandonou precisam ser resolvidas e o passado de Samantha vem forçá-la a uma decisão!

– Você não entende! Samantha, se voltar, pode ganhar o suficiente para se aposentar em dez anos. Estará feita pelo resto da vida! Depois pode colher morangos, flores ou qualquer merda que queira fazer. (p. 464)

O final do livro é emocionante! Faz qualquer pessoa repensar que tipo de vida deseja ter. Com uma linguagem fluída e divertida, Sophie Kinsella nos presenteia com um livro que vai além do entretenimento. A capa é linda e o trabalho gráfico está ótimo! É um chick-lit recomendadíssimo.

Avaliação:

Melhores quotes:

Então isso é que é ser uma mulher com lazer. Ficar sentada com folha de alumínio no cabelo, tomando Buck's Fizz e lendo revistas. Não leio nenhuma revista além de O Advogado desde que tinha uns 13 anos. Normalmente passo o tempo no cabeleireiro digitando e-mails ou lendo contratos. (p. 249)

Estou em transe diante do reflexo. Não consigo afastar os olhos do meu novo eu, reluzente, caramelo, mel. Pareço viva, pareço colorida. Nunca voltarei à aparência de antes. Nunca. (p. 250)

– Não quer falar nisso – diz ele finalmente. 

– É… é difícil.

Nathaniel expira mais forte.

– Você sofreu muito?

Ah, meu Deus, ele ainda acha que sou uma esposa que sofreu abusos. (p. 265)

– Simplesmente… não consigo fazer isso, Iris. Não posso fingir que sou isso. Não sou padeira, certo? Não sou uma rainha do lar. (…) Não sei mais quem sou. Não faço a mínima ideia. (…) Nem qual é meu objetivo… Nem para onde vou na vida. Nem nada.

(…)

– Não importa – diz ela em voz suave. – Não se critique por não saber todas as respostas. Nem sempre sabemos quem somos. Não é preciso ter o quadro geral, nem saber para onde estamos indo. Algumas vezes basta saber o que vamos fazer em seguida. (p. 294-295)

Nathaniel levanta a mão e traça círculos preguiçosos nas minhas costas.

– Seis minutos não é sexo… – ouço-o dizer enquanto meus olhos se fecham. – Seis minutos é um ovo cozido. (p. 317)

Se aprendi uma coisa com tudo que me aconteceu, é que não existe essa coisa de maior erro da existência. Não existe essa coisa de arruinar a vida. Por acaso a vida é uma coisa muito resistente. (p. 424)

E o meu quote mais que favorito:

…não quero ser uma pessoa que não olha pela janela. (p. 504)

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